Obesidade: muito além da estética

A obesidade é uma doença crônica, ou seja, não tem cura, apenas controle,  definida pelo excesso de massa gordurosa corporal em relação à massa muscular e óssea de um organismo. Pode ser mensurada também pelo Índice de massa corporal (IMC) que divide o peso pela altura ao quadrado em que considera-se obesidade um IMC  maior ou igual a 30 kg/m² e em crianças e adolescentes através relacionado à idade por gênero, feminino e masculino. 

Os dados sobre obesidade no Brasil mostram um crescimento significativo nos últimos anos. De acordo com o Vigitel de 2018, o percentual da população com sobrepeso ou obesidade já alcança mais de 50% da população, apesar de auto-relatos de menor consumo de bebidas açucaradas e maior consumo de verduras e legumes. Sabemos também que a obesidade está relacionada a 195 complicações de saúde e que a perda de peso traz diversos benefícios para o indivíduo como um todo.

 A maior oferta de comida, baixa freqüência de atividade física, susceptibilidade genética, associados a outros fatores ambientais, são os maiores contribuintes para o aumento de peso.  A obesidade pode ser vista como uma doença inflamatória, já que o aumento das células gordurosas produz substâncias inflamatórias, capazes de danificar vasos sanguíneos, coração, fígado, pâncreas e músculos. Por isso está tão associada às doenças cardiovasculares e câncer.

Uma das grandes dificuldades na perda de peso está também nas mudanças hormonais que favorecem o seu reganho. Com a perda de peso o gasto de calorias diminui em torno de 30 kcal para cada kg de peso perdido e o apetite aumenta em aproximadamente 100kcal para kg de peso perdido. Assim, o grande desafio está na manutenção do peso à longo prazo. Reforçando a necessidade de acompanhamento de uma equipe multiprofissional com nutricionista, professor de educação física e médico. Pode necessitar de tratamento medicamentoso, assim como várias outras doenças como hipertensão.

A importância do reconhecimento da obesidade como uma doença com necessidade de mudanças no estilo de vida, aliados ao tratamento medicamentoso é fundamental para que possamos ter resultados significativos. Também devemos entender que por algumas vezes não conseguimos mensurar o tempo de uso desses medicamentos e por isso que a prescrição e orientação de um médico competente faz a diferença nesse tratamento. Uma perda entre 5-10% do peso corporal já é capaz de promover benefícios na saúde e mais ainda a manutenção desse peso perdido. 

O endocrinologista deve estar atento às medidas de prevenção ao ganho de peso, como estimular uma rotina alimentar equilibrada e de exercícios físicos regulares, higiene do sono e medidas de redução do estresse. Além de elaboração de estratégias individuais para perda e manutenção do peso.

Tratamento medicamentoso para perda de peso

Os tratamentos para sobrepeso e obesidade baseados apenas em dieta e exercício físico, frequentemente falham na manutenção do peso. Sabe-se que a combinação da medicação (quando indicada) com um estilo de vida saudável incluindo planejamento alimentar e exercícios físicos regulares, têm maior efeito na perda de peso e manutenção a longo prazo. Apesar de serem usados há vários anos, os medicamentos disponíveis no Brasil, ainda são limitados.

Por muito tempo o uso de medicamentos para obesidade foi visto como controverso e criticado, além dos preconceitos de que induzem a efeito rebote de ganho de peso e dependência. O que pode ser atribuído ao uso inadequado, sem orientação médica, de substâncias manipuladas pouco conhecidas e doses abusivas. É importante ter em mente que:

  1. Os remédios para perda de peso não curam a obesidade/sobrepeso e quando descontinuados, ocorre reganho de peso;
  2. A escolha do medicamento é individual e voltada para a necessidade de cada indivíduo;
  3. Devem ser usados sob supervisão médica contínua;
  4. Deve ser mantido apenas se seguro e efetivo.
  5. Importante considerar o custo (já que a idéia é manter a longo prazo)

Dentre eles, irei comentar sobre: Sibutramina, Orlistate, Liraglutida, Antidepressivos e Anticonvulsivantes nos transtornos alimentares e obesidade. Que são os medicamentos liberados para essa finalidade no Brasil.

Sibutramina

 

Antes de tudo, declaro não ter conflitos de interesse, nem intuito de fazer propaganda. A única intenção é de informação e esclarecer dúvidas.

Desenvolvida no final dos anos 1980 como antidepressivo, que por apresentar efeito de perda de peso, passou a ser comercializada em 1999 nos Estados Unidos e Alemanha, com essa finalidade. No entanto, em 2010, foi retirada do mercado americano pelo aumento do risco cardiovascular observado em um grande estudo e posteriormente, também suspensa a comercialização na Europa.

No Brasil, a Anvisa e entidades de saúde entenderam que o aumento do risco cardiovascular apresentado no estudo foi associado à faixa etária elevada dos participantes e risco cardiovascular de base dos mesmos. Assim, a Sibutramina pode ser prescrita no país através de receituário médico controlado categoria B2, sob  assinatura do paciente de Termo de responsabilidade de uso da medicação, pelo médico e paciente. Sendo proibida a venda sem receita médica. As suas principais características e efeitos são:

– Inibidor da recaptação de serotonina e noradrenalina;

– Aumento da saciedade (maior do que inibição da fome);

– Sem efeito termogênico em humanos (apenas em ratos)

– Uso permitido em adolescentes

– Bons resultados na compulsão alimentar

– Custo-benefício. (baixo custo)

– Efeitos colaterais: elevação discreta da frequência cardíaca e pressão arterial, boca seca, dor de cabeça, insônia, irritabilidade.

Orlistate

Atua somente no trato intestinal, reduzindo a absorção de gordura. Inibindo principalmente a lipase intestinal e ajuda na redução de triglicerídeos. Promove uma redução de 30% de gordura, causando assim uma perda de calorias, que não depende da quantidade de gordura ingerida. 

Não interfere na absorção de outros nutrientes. Não tem efeito sistêmico (no resto do corpo) e seus principais efeitos colaterais são decorrentes da gordura não digerida no intestino como: evacuações oleosas, flatulências, aumento das evacuações e raros casos de incontinência fecal.

É um medicamento que não interfere com outros remédios e pode ser usado em adolescentes a partir de 12 anos de idade.

  • Inibe a lipase intestinal, diminuindo a absorção da gordura intestinal;
  • Reduz em 30% a absorção de gorduras;
  • A taxa de gordura eliminada independe da quantidade de gordura alimentar;
  • Não interfere na absorção de outros nutrientes
  • Efeitos colaterais: fezes oleosas, flatulência, aumento das evacuações;
  • Custo $.

Liraglutida

Foi primeiramente aprovada para o tratamento do diabetes e após alguns estudos  mostrarem que ela produzia significativa perda de peso com pouco efeitos colaterais, foi liberada pelo FDA em 2016 para tratamento do sobrepeso e obesidade.

A duração prolongada da versão do hormônio GLP-1 endógeno estimula a produção de insulina, dependendo da glicose, inibe a produção inapropriada de glucagon (hormônio que eleva a glicose), lentifica o esvaziamento gástrico e reduz a taxa de glicose na circulação. Aumento a saciedade e reduz o apetite.

Além de todos os benefícios, ainda confere proteção cardiovascular e renal, com redução de infarto e da mortalidade geral. Conforme apresentado pelo estudo LEADER. Em resumo:

  • Análogo do receptor do GLP-1 (hormônio produzido no intestino);

  • Uso injetável subcutâneo (semelhante a uma caneta de insulina)
  • Meia vida mais longa que o hormônio natural

  • Melhora função de células do pâncreas;

  • Proteção cardiovascular e renal

  • Reduz apetite e aumenta saciedade (ação central)

  • Lentifica o esvaziamento gástrico;

  • Liberada desde 2016 para tratar obesidade;

  • Efeitos colaterais: náuseas, distensão abdominal, dor de cabeça, constipação.

  • Custo elevado.

Antidepressivos : Fluoxetina e Bupropriona

Alguns antidepressivos têm como efeito colateral  a inibição do apetite, e por isso mesmo que não pertençam à classe dos medicamentos para perda de peso, podem ser usados como adjuvantes para tal finalidade. Com a ressalva de que o efeito tende a ser tende a não ser duradouro e melhores respostas podem ser obtidas em combinação com outros medicamentos.

1- Fluoxetina: Inibidor da recaptação da serotonina; inibe a fome e aumenta a saciedade, porém com efeito não duradouro; Baixo custo. Efeitos colaterais: boca seca, constipação, redução da libido.

2- Bupropriona: aumento da termogênese e redução do apetite; melhor ação a longo prazo; Custo moderado. Efeitos colaterais: boca seca, constipação.

Anticonvulsivante: Topiramato

Comumente usado para o tratamento da epilepsia e enxaqueca. Indicado no tratamento da Bulimia Nervosa, Compulsão alimentar e Síndrome do Comer Noturno. Com boa resposta na perda de peso quando associado à Sibutramina. Custo moderado. Os efeitos colaterais mais comuns são: parestesia perioral e em pontas de dedos e sonolência.

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